quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Poema do Cárcere


Poema do Cárcere

A minha vida simplesmente desperdicei
Não dei valor, não...
Talvez.
Se eu estivesse escutado a minha família
Não era neste lugar que eu estaria.
Aqui eu sou ninguém,
Mas talvez alguém se lembre de mim.
Vamos ver quando eu sair.

Se eu tiver sorte,
Alguém vem me buscar.
Na pior das hipóteses,
Ah, deixa pra lá.

Fui insano, cair no desespero.
Mas isso não justifica os meus erros
Em meus sonhos recordo toda a cena
Cinematográfica,
Escala de cinema.

Me pareceu armação, que esquisito...
Estava todo mundo lá,
Mas ninguém estava comigo.
Me assustei, em “choque”
Confesso.
Mas aquele assalto parecia que daria certo.
Porém,
Não saiu como planejei,
Fui atingido, e quando eu acordei.
Eu estava algemado numa jaula com um capitão do mato dando risada da minha cara.

Cheio de ódio sem entender nada,
Na mente somente, cair numa cilada.
Me jogaram num X, sem ninguém
Sem ninguém pra me visitar ou perguntar se estou bem.
Esquecido até pelo governo.
Me intoxicando, comendo “rango” azedo.

Foi assim nos 2 primeiros anos,
Meu corpo emagreceu se adaptando.
Os pensamentos bons foram poucos,
Mas graças a eles eu não fiquei louco.
Transformei meu tempo em terapia,
Lendo uns livros e uns capítulos da Bíblia.

Lê a história de Che,
Me deixou mais forte.
Li Fidel,
Pátria ou Muerte.

Recuperar o tempo perdido é difícil,
Mas, a minha cabeça não para de pensar nisso.
Um sensação estranha, me sinto mais ou menos
Nossa, não estou nem me reconhecendo.
Preciso me equilibra, na loucura.
Não se desesperar, manter minha postura.
O minutos vem e vão,
Eu tento dormi pra fugir da depressão.
Já se foram 3 anos e ainda penso...
“Como vai ser seu sair, fico tenso”
Será meu Deus, que alguém vem me buscar?
Ou me mataram depois que vim pra cá.

“Eu parei em frente ao portão, meu cachorro me sorriu latindo...”

Todas as noites em minhas orações,
Sempre pedia paciência sem ambições
Sempre pedia pra viver mais um dia.
E não morrer com pneumonia.
Eu vejo os dias passando um a um
Tudo tão igual
Tão comum.

Sair para ver o sol, era um espetáculo,
Mas a lua traz saudades do passado.
Da rua e dos amigos...
Tento evitar a tristeza, mas não consigo.
Era eu na solidão de novo, se arrependimento mata-se,
Eu estava morto.
Meu peito pouco a pouco se contrai,
Eu tento gritar,
Mas não sai.
Lágrimas escorrem no rosto de um homem
De dentro das muralhas de concreto, sem nome.
Aqui, varias estórias,
Tanta vidas.
Cada palavra, uma ferida.
Eu tenho, uns livros,
Tenho fé...
Aqui, eu sou um numero,
Ou um qualquer.
Talvez meu coração aguenta mais dois anos,
Ou morra essa noite SONHANDO.

...continua

Crônica Mendes

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