quarta-feira, 26 de maio de 2010

Poesia no concreto


Poesia no concreto

Foi bem por ali,
bem por ali que nasci.
Onde o que brotava da terra era vida
e não concreto.
Onde o céu era azul, ‘azul da cor do mar’.
Onde as cinzas que subiam ao céu,
Era da fogueira de São João.
Lá, o cheiro do amanhecer era de liberdade,
O vento não destruía as plantações,
tampouco as pessoas.
Essas não tinham rancor, eram livres para ir e vir,
e no trajeto sempre cumprimentavam uns aos outros.
O relógio não ditava o tempo,
A sirene não ditava a lei.
O ditado era:
“Juntos somos muitos sozinhos nada somos”.
Quando a lua se exibia, os românticos usufruiam
encantados, encatavam suas amadas.
Sentiam que é mais fácil falar de amor sob a luz da lua.
Foi bem ali,
Longe de tudo isso aqui.
Que nasci.
Agora tudo é moderno.
Juras de amor num quarto de motel.
O céu é cinza e o ar esta cada vez mais difícil de respirar.
Ninguém fala com ninguém, somos todos estranhos com alguma coisa em comum.
A solidão.
O vento agora dá fim à vida, e pela terra brota a guerra.
O mar se afoga em entulhos, as fogueiras queimam a gente.
Estamos deixando de ser natureza e passando a ser mórbidos.
Acabou-se a poesia, ficou o concreto.

por Crônica Mendes

3 comentários:

Vane Gomes disse...

Sonho com:
O dia em que voltaram as cadeiras na frente das casas.
Aquele fim de tarde morno.
As vizinhas, as crianças e os cachorros.
A árvore que já foi base para barraca e navio pirata...
As histórias contadas,
A luz de velas,
As noites de aventura entre irmãos.

Sonho com:
O gosto da tampinha da laranja descascada pela avó na escada de casa.
A gritaria da gurizada,
A risada do guri,
O choro da guria.
O canto dos passarinhos,
As formigas carregando os farelos do lanche da tarde.
A criança sem maldade,
A vida com sinceridade.

Sonho para fugir desse mundo
Louco, pouco, m orto,
Mudo, cego e surdo.

Mundo infértil
De amor, de vida e
De sonho.

Vane Gomes
*maio de 2010

DANILO. disse...

Bela poesia irmao, preferimos viver no nosso orgulho e solitarios, doque no amor e acompanhados.

André Ebner disse...

Perfeita Crônica. Por isso criamos dia-a-dia o mundo Hip Hop.