terça-feira, 15 de junho de 2010

Poesia fria


Poesia fria

Os olhos lacrimejados e o pensamento longe,
O corpo tatuado em preto, no tom da pele rabiscada pelo tempo que passou longe de casa.
Por hora está tudo bem.
O cabelo, pouco, é o que sobrou da meninice.
A juventude que o vento soprou contra os problemas que a vida confrontou,
De presente, cicatrizes.
Se tornou homem, antes do tempo.
Se tornou frio, antes mesmo de sentir o calor do amor.
Se descobriu mulher antes dos quinze.
entregou sua saúde na primeira dose aos doze.
São irmãos.
Entre os edifícios, bem lá no fundo,
o cinza é o mais comum das cores.
O arco Iris não veio,
A chuva levou o pouco que tinha como casa.
Há tempos tem sido assim.
As mãos transbordam linhas de uma vida toda arriscada,
Cada risco uma virtude, e a virtude corre o risco de se esvair
e não mais voltar.
E por correr, as pernas já estão cansadas e
se envergam ao sopro que baila no ar.
A voz entoada, grita ao vento,
uma poesia fria, tremida e sozinha.
“No frio, quem pode aquecer o coração de uma jovem, que caiu de joelhos sobre as águas que escorrem rua abaixo, e um jovem que subiu de joelhos ensanguentados para nunca mais voltar.”
Assovia para quem passa
e por dentro, chora sem expressar o menor desencanto aos que estão olhando.
Faz frio em casa mesmo debaixo do cobertor,
imagine nas ruas, a pele e trapos.

Crônica Mendes

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