terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Poesia inédita




Vasculhem

Estávamos trancados no quarto enquanto lá fora formava-se o alvoroço de gente. O barulho não indicava guerra, mas as luzes assustavam um pouco. Seus olhos eram tomados por lágrimas que se jogavam sobre a maquiagem deixando assim um caminho escuro pelo rosto. Minha cabeça estava baixa, não escondia nada, apenas pensava. Pensava como chegamos ali... O que estava acontecendo com a gente. E agora?
O chão estava sujo com nossas roupas rasgadas e espalhadas em meio aos cacos de vidros dos porta-retratos, bitucas, batom e os recortes sobre nós. As cortinas se mantinham penduradas na intenção de impedir as luzes e os olhares alheios. O que eles querem da gente?
O medo era o sentimento ao lado, e quando lá fora o silêncio se igualou ao nosso; Por alguns segundos respiramos mais aliviados, mas foi só por alguns segundos.
As paredes foram perfuradas por balas que tinham como endereço nossos corpos, a porta não veio ao chão, mas abriu caminho para a luz do sol entrar. As janelas despedaçadas, o sofá não era mais nada, o rádio calado, foi vítima. Foi neste momento que meu corpo sentiu o encontro daquele projétil, fui ao chão como um caco, tendo meu sangue exposto, misturado às fotografias rasgadas e toda bagunça. Estendi a mão e você, vítima como eu. Éramos um só outra vez, uma só outra vez.

Crônica Mendes

Nenhum comentário: